domingo, 16 de dezembro de 2007

Beleza Americana

A crise de Lester Burnham (Kevin Spacey) arrasta-o para um beco sem saída emocional, mas também físico (anuncia-nos, logo no início, que a sua vida não durará muito).
É odiado pela mulher, Carolyn, que só pensa em triunfar com o seu negócio imobiliário, e pela filha adolescente, Jane. O seu emprego está por um fio. Entretanto sente-se fortemente atraído por uma colega de Jane, Angela, à qual atribui o papel central nas suas visões erótico-artísticas.
Para a casa ao lado muda-se a família Fitts. Ricky, sempre armado com uma câmara de vídeo, mostra-se fascinado por Jane. O pai é um coronel dos Marines, aposentado, exacerbadamente nacionalista, homofóbico e decidido a "curar" o filho de qualquer fuga às suas normas rígidas.
É um filme rico em elementos de uma normalidade suburbana americana com a qual já nos familiarizamos. Os personagens que a povoam tendem a ser também déjà vus: a estudante atraente que usa a sua imagem, e o sexo, para triunfar, face à jovem mais introvertida e menos popular; o adolescente problemático, levado pelos pais de escola em escola; a família religiosa e moralmente branqueada, na sua casa arrumadinha e brilhante; a mulher que vive para a carreira e que luta contra a frustração do fracasso.

Assim, descrever o filme de Sam Mendes a alguém, tentando ao mesmo tendo recomendá-lo, pode ser uma tarefa complicada. Não é certamente da história e dos temas abordados, isoladamente, de onde emana este fascínio que nos envolve, mas da particular sensibilidade do cineasta, no tratamento do material, e de um excelente elenco, encabeçado pelo brilhante Kevin Spacey.

A Vida é Bela

A fantástica saga do livreiro Guido Orefice e de como ele conseguiu, por meio da imaginação e da fantasia, transformar os horrores da rotina de um campo de concentração nazista em regras de uma gincana, pelo menos aos olhos do filho de seis anos, conquistou crítica e público com seu espírito leve, porém crítico, e a coragem de fazer uma comédia para falar do que foi o maior drama do século 20: o Holocausto.

O filme traz o contraste entre a vontade de ser feliz e a monstruosidade dos acontecimentos que circundam os personagens, na Itália da Segunda Guerra Mundial. Para fazer "A Vida é Bela", além de Charles Chaplin, uma influência confessa constante, Benigni se inspirou também no que escreveu Leon Trotsky, um dos artífices do socialismo russo, em seu exílio no México.

Foragido de seu país, recluso numa terra estranha e sob a ameaça de ser morto a qualquer momento, Trotsky, em dado momento, contempla a mulher no jardim e escreve que, apesar de tudo, a vida é bela e digna de ser vivida.

É esse otimismo incansável que impregna a história de Guido e de sua família do começo ao fim e a torna, como seu diretor disse, "um hino ao fato de sermos condenados a amar poeticamente a vida porque ela é bela".

O filme pode ser dividido em duas partes muito bem definidas: a luta de Guido (vivido pelo também diretor Benigni) para conquistar seu amor Dora (interpretada por Braschi, mulher de Benigni na vida real) na primeira parte e a luta pela sobrevivência de sua família durante a Segunda Guerra Mundial na segunda metade do filme.
Um filme tocante que ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Era Uma Vez na América

Para alguns, a vida é uma simples progressão de acontecimentos corriqueiros que se sucedem com o passar dos anos. Para outros, isso é pouco.
Amigos leais, Noodles (Robert de Niro) e Max (James Woods) foram crianças de ascendência judia comuns do Lower East Side nova-iorquino no começo do século 20. Mas queriam mais. Primeiro o envolvimento com o crime. Depois, o controle de todas as ações criminosas da região: um verdadeiro império.
Dirigido pelo cultuado Sergio Leone, Era Uma Vez na América conta cinco décadas de ações criminosas e das vidas das pessoas por trás delas. Aclamado como um dos mais contundentes e melhores filmes de gângsteres da história do cinema. Um épico policial dramático e grandioso, com um elenco à sua altura.
Mais que uma história na América, um fragmento importante da própria história americana.Projeto gigantesco. Quase quatro horas de duração (na versão do diretor). Orçamento de trinta milhões de dólares. Cenários e figurinos de três épocas diferentes. Robert De Niro como ator principal.
Era Uma Vez na América, o último filme de Sergio Leone, foi um desafio em vários sentidos. Os produtores, receosos de um fracasso no mercado americano, reduziram o filme para pouco mais de duas horas e aí provocaram o que temiam: baixas bilheterias e críticas ruins. Leone conseguiu, então, distribuir o filme na Europa na versão original, e tudo mudou: excelentes críticas e bom faturamento.
Mais tarde, relançado nos cinemas dos Estados Unidos, em sua versão Era Uma Vez na América fez o sucesso que merecia. Um épico não poderia mesmo ter uma trajetória burocrática.

Diários de Motocicleta

Um filme que retrata a viagem feita na década de 90 por Ernesto Che Guevara e seu amigo Alberto Granado pela América Latina.
O objetivo, a princípio, era percorrer cerca de 8000 km e explorar o continente que até então só conheciam através dos livros, questão que os deixavam intrigados pois tinham um amplo conhecimento da Grécia Antiga e da Europa, mas em compensação não tinham o mesmo pelo seu próprio continente, sendo esses um dos motivos que os fizeram partir para a explorar o território latino americano.
Os viajantes partiram da Argentina passando por diversos lugares e chegando ao destino final que seria a Venezuela. No decorrer da viagem são surpreendidos pela extraordinária geografia física e humana do continente, o qual havia muita pobreza, fazendo com que os dois mudassem de mentalidade ao longo da viagem, principalmente Che.

Aos poucos eles começam a se sensibilizarem com a extensa pobreza e desigualdade existente no continente. Um dos principais fatores dessa mudança foi sentido quando chegaram na colônia da San Pablo no Peru (Amazônia peruana) onde havia um leprosário. Este leprosário era composto de uma verdadeira segregação entre os doentes, os quais se localizavam na zona sul da colônia, e os médicos e companhia que se encontravam ao norte da colônia, esta que era dividida pelo rio Amazonas, sendo que essa questão da segregação foi uma da que mais tocou Che.
Lá mesmo, na colônia, Che começa a aprofundar seus princípios revolucionários, sobretudo quando faz um discurso a respeito do desejo de uma América unida, sem divisões de nacionalidades, mas sim uma América constituída de uma única raça mestiça, que podemos ver uma certa influencia de Simon Bolívar que teve esse mesmo desejo no século XVIII a respeito do Pan-americanismo (bolivarismo).
Notando assim o tanto que essa viagem influenciou os pensamentos e princípios de CHE. Sendo uma viagem a princípio com o objetivo de aventura, e no fim acaba definindo o destino de um dos maiores lideres revolucionários do séc XX.
Oito anos após a viagem Ernesto já se torna o tão reconhecido Che Guevara um dos líderes mais proeminentes e inspiradores da Revolução Cubana na qual lutou por seus princípios, muito deles adquiridos na viagem pela América Latina. Sendo assim uma viagem de autoconhecimento e transformação para Che.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Cinema Paradiso

Um filme Lindo, Lindo, Lindo!!!... Salvatore di Vita é um cineasta bem-sucedido que vive em Roma. Um dia ele recebe um telefonema de sua mãe avisando que Alfredo está morto.
A menção deste nome nome traz lembranças de sua infância e, principalmente, do Cinema Paradiso, para onde Salvatore, então chamado de Totó, fugia sempre que podia, e fazia companhia a Alfredo, o projecionista.
E ali Totó aprendeu a amar o cinema.Após um caso de amor frustrado com Elena, a filha do banqueiro da cidade, Totó deixa a cidade e vai para Roma, só retornarnando trinta anos depois, por causa da morte de Alfredo.
Cinema Paradiso é um dos casos mais curiosos de uma fita que fracassou em sua terra natal para depois ser consagrada no resto do mundo. O filme só conseguiu um pouco de sucesso na Itália quando foi exibido pela terceira vez, e mesmo assim nunca estourou.
Vencedor do Prêmio Especial do Júri em Cannes, em 1989, ganhou também o Oscar de filme estrangeiro no ano seguinte. Nunca houve coisa igual em 20 anos de Festival de Cannes: a difícil platéia de críticos e profissionais aplaudiu este filme de pé durante vários minutos, consagrando o que era até então um fracasso em sua terra natal.
O filme é também um catálogo de citações de todos os grandes momentos do cinema italiano do pós-guerra, com menções a figuras como Totó, Brigitte Bardot, Fellini, Sordi, Yvonne Sanson, Massimo Girotti, Gabin e Renoir, Chaplin, Garbo, Silvana Mangano, "Ulisses" com Kirk Douglas, "Pobres mas Belas", etc.
Não é à toa que Cinema Paradiso" é um dos filmes mais queridos de nossa época. É porque nos toca diretamente no coração e nas tantas lembranças que o cinema nos deu.

Adeus, Lênin!

A maior e melhor característica de Adeus, Lênin não é sua análise ou seu posicionamento crítico sobre a Alemanha que não deu certo, mas o carinho que o diretor mostra ao construir cada cena, ao apresentar cada personagem.

O filme de Wolfgang Becker poderia recorrer ao estereótipo do filme de família, mas, ao contrário, abraça um realismo quase fantástico para falar de amor. Amor entre filho e mãe, sobretudo. Para ajudar sua mãe a se recuperar de um recém-saído estado de coma, o personagem de Daniel Bruhl, um ator surpreendente, resolve mudar a história. Ele restaura a Alemanha Oriental pré-derrubada do Muro de Berlim em depoimentos, vídeos forjados e vidros de pepinos em conserva. Tudo para evitar que a mãe, socialista de carteirinha - e ainda instável depois de despertar de um sono de sete meses, acredite que nada mudou.

Mas sustentar um universo inteiro é complicado e o bom filho precisa fazer com que as mudanças na Alemanha aconteçam aos poucos. Aos poucos, Bruhl refaz a história e cria sua Alemanha perfeita. Comanda mudanças, abraça exilados e multinacionais. E o mundo de seus sonhos passados vai se tornando possível. Wolfgang Becker quis retornar para sua Alemanha idealizada e fez essa viagem com carinho. A família protagonista revela um amor e um cuidado entre seus integrantes que pouco combinam com o estereótipo gélido do alemão comum.

Daniel Bruhl comanda um elenco interadíssimo, onde quase todos têm seu destaque. Sua interpretação é tão despretensiosa e envolvente que torcer por sua personagem é obrigatório. Ao seu lado, Maria Simon, que foge das prisões de uma personagem maluquinha para nos entregar uma filha preocupada, e Chulpan Khamatova, com a namorada-enfermeira apaixonante.

Mas Katrin Saß é quem tem a melhor cena do filme. Quando levanta da cama para olhar Berlim de perto, e vê Lênin voar sobre as ruas da cidade, a atriz representa um povo inteiro que viu seu passado de pedra ir embora pelos ares. Wolfgang Becker brinda ao fim das utopias, com delicadeza para não quebrar as taças.

Sociedade dos Poetas Mortos

Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos".

Um filme se torna mais do que uma mera peça de entretenimento quando exerce algum tipo de impacto sobre o comportamento de alguém. Os melhores filmes deixam marcas, às vezes, em toda uma geração. Vez por outro, filmes não tão bons, mas impactantes, exercem efeito semelhante, para logo em seguida serem esquecidos. Este é o caso de “Sociedade dos Poetas Mortos” (Dead Poets Society, EUA, 1989), o filme mais famoso do diretor australiano Peter Weir.
O longa-metragem com Robin Williams fez um tremendo sucesso entre os jovens no início da década de 1990, mas não sobreviveu muito bem ao sucesso inicial.

Há alguma razão específica para esse fenômeno? Sim, existe: “Sociedade dos Poetas Mortos” é um filme de temática aparentemente subversiva, mas enterrada em um profundo conservadorismo estético e narrativo. Em outras palavras, trata-se de um filme que valoriza as liberdades individuais, e a importância de aprender a desenvolver as próprias idéias, sem copiar nada de ninguém. Só que Peter Weir não seguiu a própria recomendação e fez um filme igual, em aparência e estrutura, a muitos outros. Talvez seja este o motivo da película ter tido sobrevida tão curta, porque, obviamente, ela está longe de ser taxada de ruim.

Para determinada geração, que tinha em torno de 18 anos na virada das décadas de 1980/90, “Sociedade dos Poetas Mortos” exerceu um papel importante, pois representou o resgate de valores que pareciam velhos, antiquados, pouco atraentes. O filme utiliza citações e trechos de poesias de Walt Whitman, Henry David Thoreau, Byron e William Shakespeare, entre outros ícones da literatura romântica e rebelde, para apresentar a sua lição: a boa arte, a verdadeira arte, é aquela que desperta paixões, que celebra a vida. Não tem nada a ver com a fria matemática literária que nos ensinam nas escolas. A arte ensina a pensar. Arte é liberdade.
Peter Weir realiza um trabalho meticuloso, colocando o espectador na mesma posição dos alunos de Keating. “Sociedade dos Poetas Mortos” não é sobre poesia e arte, mas sobre liberdade e autonomia de pensamento.
Nesse sentido, conta com a preciosa colaboração do fotógrafo John Seale (Oscar por “O Paciente Inglês”). A fotografia de Seale é majestosa, e não apenas nas belas imagens da natureza ao redor do campus, como na linda tomada em que um dos alunos desce uma colina de bicicleta, causando uma revoada de pássaros à beira de uma lagoa. A maior parte das cenas se passa em interiores, e a iluminação é perfeita. Preste atenção, por exemplo, nas seqüências que se passam dentro da caverna, iluminadas por velas. A atmosfera é gótica, mas jamais ameaçadora; apenas um pouquinho melancólica.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Trem da Vida

Em todas as matérias na mídia sobre Trem da Vida, foram feitas comparações com o filme italiano A Vida é Bela. O fato é que o diretor de Trem da Vida, o romeno Radu Mihaileanu, escreveu o roteiro de seu filme entre 1993 a 1994 e mandou uma cópia para Roberto Benigni, convidando-o para atuar em Trem da Vida. O comediante italiano recusou e, anos depois, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 1941, um vilarejo na Europa Ocidental recebe o alerta de que os nazistas estão chegando para deportar todos os judeus.
Quem dá a notícia é Schlomo, o bobo da aldeia, que é o único capaz de sugerir uma saída: os próprios habitantes irão forjar um trem nazista, interpretando eles mesmo os alemães, os maquinistas e os deportados.
Antes da chegada dos verdadeiros nazistas, o trem parte com destino à Terra Prometida. Tudo vai conforme planejado, exceto pelo fato de que as encenações começam a ficar cada vez mais realistas.
Os "nazistas" se tornam mais autoritários; os "deportados" começam a tramar uma rebelião contra seus falsos algozes, e outros se declaram "comunistas", querendo lutar contra os fascistas, os burgueses e os imperialistas.
Também são hilárias as situações onde o escolhido para ser o comandante do trem treina o vocabulário alemão "sem sotaque" e as diversas piadas com a ganância financeira dos judeus e seus apelos de barganha. O curioso é que, pela primeira vez na história do cinema, o nazismo não é retratado de forma aterrorizante. Fala-se que os nazistas estão matando judeus, mas toda vez que os soldados de Hitler aparecem na tela são como se fossem uns abobados, facilmente enganados pelos alegres judeus. Dessa forma, o holocausto ganha uma versão fantasiosa e de nada adianta tantas raças e crenças diferentes, já que todos buscam a mesma coisa de maneira esperançosa: uma vida melhor.
Vencedor de inúmeros prêmios em todo o mundo, O Trem da Vida é um dos melhores filmes dos últimos tempos sobre o Holocausto.

domingo, 2 de dezembro de 2007

O Auto da Compadecida

As aventuras de um sertanejo pobre e mentiroso, chamado João Grilo, narradas na premiada peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, originalmente escrita em 1955 chega ao cinema na versão de Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão. O filme tem a direção de Guel Arraes e ainda ganhou trilha sonora original, com produção de João Falcão, e um tratamento visual que faz um paralelo entre o Nordeste dos anos 30 e a Idade Média.Matheus Nachtergaele interpreta João Grilo, o nordestino sabido, que luta pelo pão de cada dia, e atravessa vários episódios enganando a todos, ao lado de Chicó (Selton Mello), seu companheiro de estrada. Descritos como personagens picarescos pelo diretor Guel Arraes, João Grilo e Chicó são os protagonistas desta história.
Ganhou 4 prêmios no Grande Prêmio Cinema Brasil, nas seguintes categorias: Melhor Diretor, Melhor Ator (Matheus Natchergaele), Melhor Roteiro e Melhor Lançamento. Recebeu ainda uma indicação na categoria de Melhor Filme.
O Auto da Compadecida foi inicialmente produzida como uma minissérie de 4 capítulos, exibida na Rede Globo de Televisão em janeiro de 1998. Devido ao grande sucesso obtido, o diretor Guel Arraes e a Globo Filmes resolveram preparar uma versão para o cinema, que contém 100 minutos a menos que o tempo total da minissérie. Trata-se do primeiro filme feito inteiramente pela Globo Filmes, desde a idéia até seu desenvolvimento.
O Auto da Compadecida foi filmado em Cabaceiras, no sertão da Paraíba, uma cidade próxima a Taperoá, cidade em que as aventuras de João Grilo e Chicó são retratadas na peça teatral de Ariano Suassuna. Apesar de já ter sido exibida gratuitamente na televisão, a versão para o cinema de O Auto da Compadecida foi um grande sucesso, tendo levado aos cinemas mais de 2 milhões de espectadores.

Tomates Verdes Fritos

Um filme simples, mas que encanta com sua simplicidade. "Tomates Verdes Fritos" traz uma história sutil sobre amor e amizade, contada de uma forma bastante atraente.
O trunfo do filme, para quem assistiu e pode perceber, está no fato de desenvolver a história de uma forma bastante sutil. Independente do tipo de relação que Ruth e Idgie constroem, a ênfase é dada apenas ao sentimento que as une. Até mesmo a antipatia que as duas mulheres despertam em habitantes mais conservadores da cidade não está ligada ao fato das duas estarem juntas, mas sim por elas tratarem com igualdade todos os excluídos da sociedade de então.
A história faz chorar várias vezes e tem algumas passagens realmente impróprias para menores de 14 anos. Trata essencialmente de coragem: coragem de superar perdas, de quebrar tabus, de enfrentar preconceitos de várias cores e tamanhos e também de se permitir uma boa amizade. A gente alterna riso e choro com muita facilidade, graças ao trabalho de três gerações de atrizes: Jessica Tandy, Kathy Bates, Mary Stuart Masterson e Mary-Louise Parker. O trabalho delas é de encher os olhos, quase não se sente passar as duas horas do filme.
Nem fotografia extraordinária, nem trilha sonora espetacular ou até mesmo uma direção primorosa. Não que esses aspectos não estejam bastante bem coordenados, mas o que detém a atenção, independente de outras coisas, é mesmo a trama propriamente dita. Assim como o personagem de Evelyn, nos vemos cada vez mais envolvidos na história de Ruth e Idgie, sempre querendo saber o que mais aconteceu. A responsabilidade por tornar os personagens envolventes coube perfeitamente às atrizes escaladas para viverem as protagonistas. Mary Stuart Masterson, apesar de permanecer até hoje um talento desconhecido do grande público, dá vida lindamente à Idgie e Mary-Louise Parker constrói uma Ruth complexa, simultaneamente forte e extremamente frágil. As veteranas Kathy Bates e Jessica Tandy dispensam defesas. A elas, inclusive, coube a maioria das indicações a prêmios levadas pelo filme.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Pulp Fiction - Tempo de Violência


Três histórias são apresentadas de forma não cronológica. Numa, conhecemos Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), dois mafiosos que vão cobrar dinheiro. Noutra história, Vincent tem que levar a mulher do seu patrão (Uma Thurman) para se divertir enquanto ele viaja, mesmo com todos os boatos que rodeiam o caso. Por último, conhecemos Butch Coolidge (Bruce Willis), um lutador que deve lutar num combate com um vencedor já definido.Todas estas histórias têm algo em comum: falam todas de um mundo de crime, sexo, violência e drogas. Resumindo, estão garantidas mais de duas horas de pura diversão com o humor negro que só um gênio como Quentin Tarantino sabe oferecer. E como já é habitual no realizador, o filme não segue um fio cronológico linear. Opta em vez disso por contar as histórias sem um tempo de base definido, mas no entanto, nunca nos sentimos perdidos, pois no final tudo se encaixa perfeitamente bem.
O elenco é de luxo: desde a grande interpretação de John Travolta (que revitalizou a sua carreira), passando por Samuel L. Jackson, Christopher Walken, Bruce Willis, Uma Thurman, a portuguesa Maria de Medeiros, até ao pequeno papel de Tarantino. Todos eles estiveram tão bem nos seus papéis que é complicado destacar apenas um.
Estas interpretações de qualidade devem-se precisamente ao argumento e originaram momentos únicos, tensos, divertidos e memoráveis da história do cinema. Como exemplos, temos a famosa dança das personagens de Travolta e Thurman e Samuel L. Jackson a recitar uma passagem da bíblia que fala de vingança.
Todo o mérito do sucesso de Pulp Fiction é de Tarantino. Gastou apenas 8 milhões para fazer um dos melhores filmes de sempre e faturou mais de 200 em todo o mundo. É um excelente realizador e diretor de atores e filma como ninguém. Escolheu por diversas vezes cenas longas, mas que nunca se tornam cansativos. Outro ponto fortíssimo de Pulp Fiction é sua banda sonora, que encaixa na perfeição e nos mantém agarrados á cadeira até ao último segundo! Quem é que não se lembra da famosa: "Girl, You'll Be a Woman Soon" ou da música da famosa dança "You Never Can Tell"?Resumindo, Pulp Fiction é uma obra genial e impossível de definir numa só palavra. Foi igualmente o filme que revolucionou o cinema independente norte-americano e que definiu Tarantino como um dos melhores e mais originais realizadores de sempre.

Os Bons Companheiros

Baseada em fatos reais, esta é a obra-prima sobre a Máfia de Martin Scorsese, através dos olhos de Henry Hill (Ray Liotta), norte americano meio italiano, meio irlandês, e como ele se desenvolveu dentro da Máfia desde que foi criança. Um retrato extremamente violento da organização. O filme conta a trajetória de Henry e de seus dois amigos mafiosos Tommy (Joe Pesci) e James Conway (Robert De Niro). Eles são companheiros inseparáveis, e nem a máfia, o poder e as drogas parecem conseguir destruir essa amizade.
Garoto do Brooklyn, Nova York, que sempre sonhou ser gângster, começa sua "carreira" aos 11 anos e se torna protegido de um mafioso em ascensão. Sendo tratado como filho por mais de vinte anos, envolve-se através do tempo em golpes cada vez maiores. Neste período acaba se casando, mas tem uma amante, que visita regularmente. Não consegue ser um membro efetivo, pois seu pai era irlandês, mas no auge do prestígio se envolve com o tráfico de drogas e ganha muito dinheiro, além de participar de grandes roubos, mas seu destino estava traçado, pois estava na mira dos agentes federais.
Oscar de melhor ator coadjuvante (Joe Pesci).

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Seabiscuit - Alma de Herói


Muito se falou deste famoso cavalo americano, que teve sua vida contada em filme, numa história linda e emocionante. Creio que muitos que assistiram ao seu filme, chegaram as lágrimas. Fatos como esses fazem do turfe, um esporte emocionante e único. Saber compreender um animal, é tarefa para poucos, e com Seabiscuit, não foi diferente, pois respeitaram ele com animal e assim puderam tirar o melhor dele nas carreiras. . Seabiscuit deixou sua marca com vitórias fantásticas. Seu nome virou lenda no mundo das corridas.
SEABISCUIT, corria muito, todos já sabiam, agora mais ainda, através dessa pequena pesquisa, que ressalta sua linhagem via paterna e materna. Seu pedigree é recheado de nomes de peso na criação mundial, como o caso de: Rock Sand, Man 0'War, Waxi e Rabelais.
Se SEABISCUIT tinha "Alma de Héroi" eu não sei , mas que tinha pedigree de verdadeiros campeões, isso eu tenho certeza.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sobre Meninos e Lobos

Clint Eastwood, cineasta que gosta de se propor desafios, fez um filme enxuto, bem feito e visualmente inteligente que instiga e divide seus admiradores.
Sinopse, sem muitos detalhes para não estragar o filme para aqueles que ainda não assistiram: três amigos de infância se reencontram quando uma tragédia ocorre. Suspense, intriga e poder apontam nesse controverso drama, que gira em torno do passado, trazendo para o presente antigos traumas, assim como novas dúvidas e suspeitas.A sensação durante o filme é de angústia, indignação, inquietação e até descrença.
É um filme sobre injustiças, violência de diversos gêneros e sofrimento. Que cruza presente e passado impiedosamente. A expectativa do que poderia ter sido e não foi, as conseqüências do ontem no hoje... ninguém pode estar livre de seus próprios fantasmas. O passado, como mostra o filme, é uma marca eterna.
Recebeu 06 indicações ao Oscar 2004: melhor filme, ator (Sean Penn), ator coadjuvante (Tim Robbins), atriz coadjuvante (Marcia Gay Harden), roteiro adaptado e direção.
O elenco de peso, ao lado da direção segura, contribui para dar ao filme a atmosfera precisa: Sean Penn, Kevin Bacon, Tim Robbins, Laurence Fishburne, Laura Linney e Marcia Gay Harden são atores experientes e geralmente talentosos (Bacon amargou algumas participações infelizes e Gay Harden esteve caricata demais, mas ainda assim, não se pode dizer que decepcionam)... Eastwood não engrossou o time de atores, acertadamente, e assim pôde se concentrar com mais afinco na produção, direção e até mesmo, pasmem, na trilha sonora. E não é que o danado se saiu muito bem?
Um bom filme, sem dúvida. Grandes atuação, grande direção, enredo consistente, final relativamente fraco. O saldo, no entanto, é positivo. E como!

Dança com Lobos

Durante a Guerra Civil Americana, o jovem Tenente John Dunbar (Kevin Costner) protagoniza um ato heróico e, por sua opção, vai servir em uma região infestada de índios. Ao invés de participar de algum extermínio, ele consegue uma ousada aproximação com os nativos, descobrindo sua cultura, costumes e seu modo de comunicação. Vencedor de 7 Oscar, incluindo Filme, Diretor, Roteiro Adaptado e Fotografia.
O gênero western ou far-west que na década de 1980, excetuando-se alguns poucos filmes que repercutiram, estava em franca decadência e descrédito, ganhou fôlego e vigor na nova roupagem introduzida pelo filme "Dança com Lobos". O politicamente incorreto que caracterizava as produções sobre o Velho Oeste americano, onde os vilões ganhavam status de celebridades, os xerifes tinham autorização para matar indiscriminadamente e os índios eram apresentados como selvagens a serem domados como os cavalos e búfalos das pradarias daquela região, foi substituído por um filme que trabalha com sensibilidade o encontro entre o mundo dos brancos e o universo dos índios.
O espírito do filme de Costner nos envia necessariamente para a carta enviada pelo Chefe Seattle ao presidente dos Estados Unidos, em 1850, como resposta a uma proposta de compra de suas terras. Nela transparecem as idéias de que somos como fios que compõem um tecido grandioso e que, como tal, dependemos dos outros fios assim como os outros dependem de nós para a composição do todo, da vida, da sobrevivência coletiva. Ele perguntava naquele documento se os brancos iriam tratar dos animais, das águas dos rios, da floresta e do ar como tratava seus irmãos ou seus pais. Antecipava o questionamento ecológico (globalmente organizado a partir de conferências realizadas no final dos anos 1960) em mais de 100 anos. Usava metáforas como "selvagens indígenas" e "cidades de pedra" para falar sobre civilização e progresso. Afinal de contas, quem era o civilizado nessa história?
Esse filme pode abrir debates sobre o choque entre culturas diferentes, estimular pesquisas a respeito dos indígenas, fazer com que os alunos entrem em contato com comunidades que vivam próximas. Uma boa dica pode ser comparar a imagem do índio com a que tínhamos antes (baseada em filmes antigos ou revistas em quadrinhos como "Tex"). Outra alternativa é ler o livro "Enterrem meu coração na curva do rio" para compreender um pouco dessa rica cultura de nossos irmãos indígenas! Coloque o filme na lista dos obrigatórios, vale a pena!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Tempos Modernos


Trata-se do último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome.
A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona.
O filme focaliza a vida do na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias "subversivas".
Em sua Segunda parte o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, sem representar contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda que a mesma sociedade capitalista que explora o proletariado, alimenta todo conforto e diversão para burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas questões.
Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser considerado "socialista".
Além da direção, Chaplin é responsável pela produção, pelo roteiro e pela música original, o que faz com sua costumeira habilidade.
O filme apresenta, ainda, uma bela fotografia e interpretações marcantes, com destaques para Chaplin e para a bela Paulette Goddard, na época sua esposa na vida real. Gloria DeHaven, que faz o papel da irmã de Paulette, tinha apenas 11 anos de idade quando da realização do filme.







Os Intocáveis

A Chicago de 1930, dominada pelos chefões italianos, mais precisamente o Al Capone do homem de ouro do cinema, Robert DeNiro.
Seria apropriado chamá-los de justiceiros? Acho que sim. A ética no corpo policial é questionada quando, sozinhos, a polícia têm que desarmar todo um sistema corrompido.
Debate que parece inédito em tempos de "Tropa de Elite", quando Brian DePalma já o havia introduzido em "Os Intocáveis" de 1987. O banditismo entranhado na sociedade. Um homem com métodos ortodoxos, Sean Connery aqui no papel que lhe rendeu o Oscar, se alia à personificação da integridade e justiça na polícia, Kevin Costner.
Defino a presença de Connery: personagem interessante, grande referência em momentos cruciais da trama, tem presença e o eterno James Bond é carismático. As estrelas vão para a originalidade do roteiro de David Mamet, as peripércias com a câmera que somente DePalma consegue realizar (como o plano inicial onde Capone aparece fazendo a barba e cercado por seus cúmplices e a sequência eletrizante de Kevin Costner tentando salvar um bêbê dentro de um carrinho que desce escada abaixo em meio ao fogo cruzado).
Sem esquecer o grande Ennio Morricone e sua trilha excepcional, clássica e referência no universo cinematográfico.Participações relâmpagos de Andy Garcia e Patricia Clarkson. D
esde o início do projeto era intenção do diretor Brian De Palma que Robert De Niro fosse o intérprete de Al Capone. Entretanto, como o ator não estaria disponível na época das filmagens, o ator Bob Hoskins chegou a ser contratado para interpretar o personagem. Porém, quando De Niro conseguiu sua liberação para atuar em Os Intocáveis, De Palma resolveu por dispensar Hoskins e contratar De Niro para o papel.
As roupas utilizadas por Robert De Niro ao interpretar Al Capone são cópias idênticas das roupas verdadeiras que o gângster usava quando estava vivo.
Albert H. Wolff, o único integrante vivo dos verdadeiros intocáveis, trabalhou como consultor do filme, auxiliando o ator Kevin Costner em como Eliot Ness deveria ser caracterizado nas telas.


terça-feira, 20 de novembro de 2007

... E o Vento Levou

Roteirizado por Sidney Howard, a partir do livro de Margareth Mitchel, a produção de David Selznick se tornou o mais popular clássico da história do cinema. Leigh e Gable (Scarlet O'Hara e Rhett Butler) vivem uma violenta paixão em plena Guerra da Secessão americana. O resultado é espetacular: um épico inesquecível que já motivou a publicação de mais de vinte livros.
O filme enfoca as paixões da sulista Scarlett O'Hara (Leigh) pelo aventureiro Rhett Butler (Gable) e pelo pacato Ashley Wilkes (Howard) e seu amor por Tara, a propriedade de sua família, tendo como pano de fundo a Guerra de Secessão norte-americana.
Scarlet é uma personagem bastante complicada, uma vez que em plena época de protagonistas perfeitos, de ideais fortes e ordeiros, ela se apresenta egoísta e determinada a passar por cima de todos para conseguir defender sua terra que tanto ama – Tara. Isso pode soar feminista e irritante para alguns, mas na verdade é justamente aí que está o charme da personagem. Seu modo de lutar, sua força de vontade para trazer o bem aqueles que a rodeiam, sem nunca deixar de pensar na própria felicidade fazem de Scarlet uma personagem complexa e bastante profunda.
Inúmeras cenas marcam esta forte caracterização de Scarlet. Em certo momento, ela chega a matar para impedir que os ianques retirem o pouco que restou de sua casa após o término da guerra. O que não necessariamente corresponde ao final do filme, uma vez que ele procura explorar também as horríveis conseqüências do pós-guerra em cenas chocantes. Outra, por exemplo, pode ser facilmente identificada como quando Scarlet parte em busca do doutor em pleno campo de batalha, para que ele faça o parto em Melanie Wilkes (Olivia de Havilland). A câmera vai se afastando e subindo em um gigantesco traveling para mostrar a dimensão dos mortos e feridos naquela batalha – uma cena fantástica, por sinal, ao combinar perfeitamente o incrível número de figurantes com a avançada técnica de filmagem da época, que só foi possível por causa de um imenso guindaste.
Um filme não se torna um dos mais assistidos de todos os tempos à toa. “...E o Vento Levou” é um épico maravilhoso e inesquecível, que faturou inúmeros prêmios importantíssimos ao longo da história: 10 Oscars, incluindo filme e diretor (um honorário e outro técnico, por isso talvez alguns o considerem vencedor de apenas oito estatuetas); está entre os 10 primeiros na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos; é o filme que mais faturou nas bilheterias, entre outros números importantíssimos. Mas não são os prêmios que fizeram dele um grande filme. Eles foram apenas conseqüências de sua magnitude que reside até hoje nas telas.

Cidadão Kane

Quando dirigiu, produziu, protagonizou e foi co roteirista de Cidadão Kane, Welles tinha 25 anos e conquistara fama no rádio: em 1939 fez história ao transmitir programa que simulava uma invasão dos Estados Unidos por marcianos.
A primeira entrada da reportagem no ar relatou acontecimentos imprecisos que, nos flashes seguintes, foram se tornando cada vez mais claros e ameaçadores; eram entrevistados populares, autoridades, especialistas etc., compondo um quadro cada vez mais assustador. Baseado no livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, o show radiofônico criou habilmente a ilusão de veracidade, levando os ouvintes ao pânico.Graças à notoriedade assim conquistada, o diretor novato recebeu da produtora RKO carta branca para dirigir e um orçamento generoso. Confirmando sua índole polêmica, ele fez um filme no qual se identificavam alusões ao magnata das comunicações William Randolph Hearst.
A história conta como o repórter Thompson (Joseph Cotten) reconstitui a trajetória do empresário da imprensa Charles Foster Kane (Welles), buscando decifrar o significado de sua última palavra no leito de morte: "rosebud". A morte de Kane comovera a nação e descobrir o porquê daquela palavra se torna uma obsessão para o jornalista, que acredita poder encontrar nela a chave do significado daquela vida atribulada.O repórter entrevista, então, as pessoas próximas ao figurão. Um emaranhado de informações vai se costurando à frente dos olhos do espectador, desde a infância pobre, revelando um Kane por vezes perturbado, mas sempre ambicioso.
Essa multiplicidade de fontes usadas pelo repórter cria um conjunto de perspectivas diferentes, funcionando como peças do quebra-cabeças que os espectadores vão montando. Kane herda uma fortuna e deixa de viver com os pais para ser criado por um banqueiro, Walter Parks Thatcher (George Coulouris). Dentre todos os negócios que passam às suas mãos na maioridade, resolve dedicar se a um dos menos rentáveis: um jornal convencional e pouco influente. Atraindo as estrelas dos veículos concorrentes com salários maiores e praticando um jornalismo agressivo (que freqüentemente descamba para o sensacionalismo), Kane consegue sucesso como homem de mídia, criando uma reputação de campeão dos pobres e oprimidos. Tenta carreira na política, concorrendo a governador como candidato independente; quando parece ter a vitória nas mãos, um escândalo provoca sua derrota. Depois de dois casamentos fracassados, passa seus últimos dias sozinho no palácio que construiu e para o qual levou tudo que o dinheiro podia comprar desde obras de arte de valor inestimável até os animais mais exóticos do planeta.
O filme faz uso de flashbacks, sombras, tem longas seqüências sem cortes, mostra tomadas de baixo para cima, distorce imagens para aumentar a carga dramática; a iluminação é pouco convencional, o foco transita do primeiro plano para o background, os diálogos são sobrepostos e os closes usados com contenção. Revolucionário. O personagem central vai, aos poucos, perdendo suas virtudes e aumentando seus defeitos. Pode ser visto retrospectivamente como alguém amargo, sombrio, arrogante, manipulador, cruel e impiedoso. Sua trajetória, no entanto, encerra muito do sonho americano: idealismo, espírito de iniciativa, fama, dinheiro, poder, mulheres, imortalidade.
O óbvio paralelo de Kane (e seu Inquirer) com Hearst (e seu Exnminer) gerou controvérsias e pressões para impedir a montagem e exibição do filme. As similaridades são muitas: Kane construiu um palácio extravagante na Flórida, Hearst tinha um em San Simeon; o personagem teve um caso com uma cantora sem talento, Susan Alexander (Dorothy Comingore), lembrando o que Hearst teve com a jovem atriz Marion Davies. Enquanto o magnata da vida real comprou o estúdio Cosmopolitan Pictures para promover o estrelato de Davies, Kane comprou para Susan um teatro. Entretanto, enquanto Hearst nasceu rico, Kane era filho de uma família humilde.