sábado, 5 de janeiro de 2008

Apocalypto

“Apocalypto” inicia-se com uma citação do filósofo, historiador e escritor Will Durant sobre Roma, referindo que uma civilização só é conquistada do exterior quando já se destruiu a si mesma. Supostamente, este filme versa sobre a civilização Maia, apesar dessa referência nunca ser explicitada. Mas nem sequer a sugestão de que “Apocalypto” possa ter algum fundamento histórico sustém a sua vacuidade.
“Apocalypto” conta a história de Pata-Jaguar (Rudy Youngblood), um jovem caçador de uma aldeia no meio da floresta tropical. Quando a sua aldeia é atacada por um grupo de guerreiros, o instinto de Pata-Jaguar leva-o a proteger a sua família. Mas quando é capturado a luta pela sua própria sobrevivência não é mais do que a luta pela sobrevivência daqueles que ama e que deixou para trás. Carregando este filme aos ombros, o estreante Rudy Youngblood plasma a transformação da inocência em agressividade, de um homem de família num astuto estratega.

“Apocalypto” é visualmente impressionante. Tem planos verdadeiramente criativos, um ritmo eletrizante e a lindíssima fotografia de Dean Semler. Da floresta verdejante à imponente cidade, as paisagens mexicanas e os cenários são de tirar o fôlego. Mas o fascínio de Mel Gibson por sangue, já patente em “The Passion of the Christ” (2004), parece ter-se agravado. “Apocalypto” é puro gore, e a sua qualidade técnica torna-o o extremamente violento. O espectador é forçado a superar imagens explicitamente cruéis (algumas delas tontas até) na esperança de que a história diante dos seus olhos se mostre digna desse esforço. Mas Gibson mostra apenas uma obsessão estética.

Se “Apocalypto” tem uma mensagem, ela não chega até nós. Tendo em conta os poucos diálogos (os que há, são em Maia), talvez seja mais fácil olhar para este filme como apenas um action movie, sem lhe pedir muito mais. Simplesmente, aproveitar a(s) sua(s) forma(s). Como as da loura que foge e grita durante todo um filme de terror. Com a diferença que aqui é um americano nativo – daqueles que Gibson provavelmente acredita que acabariam metidos em reservas, independentemente das chacinas dos colonos americanos. Tal como parece achar que a dizimação étnica dos conquistadores espanhóis foi consideravelmente irrelevante para o inevitável desaparecimento da sociedade Maia, marcada por fortes superstições e contrastes sociais.
Apesar desta visão parcial, não deixa de ser interessante fazer aqui uma leitura paralela para a nossa realidade: avisando-nos da destruição que nos espera se continuarmos a insistir nos nossos excessos.