terça-feira, 8 de setembro de 2009

Um Sonho de Liberdade


Este filme escrito e realizado por Frank Darabont é inspirado numa pequena história do mestre Stephen King, "Rita Hayworth and the Shawshank Redemption". A fita foi nomeada para sete Oscars da Academia e peca por não ter ganhado nenhum. Uma terrível injustiça na verdade. Mas parece que hoje em dia nem sempre os melhores filmes recebem a distinção que merecem. (Algo a melhorar no futuro).

Poucos filmes conseguiram a proeza de serem encenados em um ambiente e falarem de algo que está muito distante do local onde ele se passa, e ainda assim serem totalmente palpáveis. Não é sobre a prisão e o mundo institucionalizado – além do próprio processo de institucionalização – que “Um Sonho de Liberdade” trata, mas justamente sobre o mundo e os sentimentos que estão do outro lado dos muros e que, durante 90% da projeção, sequer é visto pelo espectador. Ao falar sobre liberdade e esperança, conceitos escondidos do outro lado do portão da prisão de Shawshank, o filme de Frank Darabont cria um elo particular com o espectador, porque tira dele também a possibilidade de ver o outro lado. Torna-o cúmplice de seus personagens não na busca pela fuga da prisão, mas na esperança de (pasmem) poder ter esperança.

Durante as décadas que acompanharemos Andy Dufresne (Tim Robbins), bancário rico acusado de matar a esposa e o amante, na prisão de Shawshank, em companhia de “Red” Redding (Morgan Freeman), raramente veremos momentos onde o sol brilhe com intensidade. Esses momentos surgem pontuados, quebrando a constante neblina e o clima úmido, quando o assunto esperança é evocado diretamente ou apareça nas entrelinhas: durante a pintura no telhado, no trabalho fora da prisão, na primeira conversa entre Red e Andy ou na emocionante cena que resume a idéia toda: quando Andy quebra as normas e coloca no alto falante da prisão uma ária de Don Giovanni, de Mozart, para uma platéia de homens alijados da liberdade, absortos em admiração a uma voz que, como o próprio Red diz, ninguém ali sabia o que dizia, mas espetava seus corações de uma forma que eles não sabiam explicar.

Já na história original de King todo o processo de manutenção da esperança e da fé de um homem – e da forma como ele consegue transformar as perspectivas dos que o cercam – baseava-se no tema de manter a humanidade em um ambiente que tenta, simplesmente, transformá-la. No sistema de Shawshank, a disciplina cria a chance de reabilitação. A punição com forma de resgatar a fé, a disciplina e a rotina como meios para alcançar a obediência, que seria a base da vida em sociedade. A cada dez anos, esse processo era avaliado. E entregava à sociedade, décadas depois, um homem completamente incapaz de tomar suas próprias decisões. “Durante 40 anos pedi permissão para mijar. Não posso mais ir ao banheiro sem pedir permissão.” O processo todo é balanceado pela hipocrisia dos que aplicam o sistema, detentores de uma moral mais torta do que daqueles a quem ela é ditada.

Bravo!