sábado, 3 de julho de 2010

Na Natureza Selvagem




Adaptado a partir da biografia escrita pelo talentoso Jon Krakauer, o roteiro do diretor Sean Penn enxerga seu protagonista como um jovem extremamente sensível cujos olhos se enchem d’água apenas com a visão dos animais em seu habitat. Abandonando seus pais e a irmã depois de se formar, McCandless parte numa viagem sem rumo através dos Estados Unidos com o propósito não muito bem definido de viver uma experiência autêntica de auto-descoberta – e, no processo, se relaciona com todo tipo de indivíduo que cruza seu caminho, demonstrando, assim, um interesse genuíno em estabelecer ligações interpessoais que o ajudem a crescer.

McCandless está – embora não o admita - simplesmente fugindo de seu passado – e seu propósito não declarado (aliás, inconsciente) é encontrar alguma forma de preencher o vazio interior deixado pela relação conturbada com os pais.
Enfim, é a grande tradição americana de exploração do espaço aberto e deserto, com a subsequente criação de uma narrativa que se espalha sob a forma de lenda, perpetuando assim o mito da conquista do oeste selvagem. Dos cowboys, passando pelos beatnikis e chegando nos astronautas, me parece que esse é sempre o ponto: levar ao extremo a exploração da vastidão interna do ser humano por intermédio da vastidão externa (bem mais limitada).

Embora tudo possa ser subvertido, a discussão e o filme vem bem a calhar nessa época de absoluto excesso, de tudo à disposição - especialmente à disposição dos americanos, vamos combinar. Nunca foi tão difícil falar de uma cultura de renúncia, praticada por aventureiros e homens santos em todas as épocas da humanidade. E aí a gente encontra um segundo ponto de dificuldade: a mitificação da renúncia que acaba virando fuga - o que me parece, em parte, ser o caso de Chris Mc Candless. Embora seja perigoso simplificar a questão dessa forma, McCandless sempre foi extremamente revoltado com questões familiares mal resolvidas.
Merecia um capítulo a parte a trilha sonora de Into the Wild. Que trabalho maravilhoso o de Eddie Vedder neste filme! Ele realmente dá outro nível de beleza e de compreensão da história com suas composições.