domingo, 22 de fevereiro de 2009

As Confissões de Schmidt




Dizer que Jack Nicholson é um ator espetacular é quase um pleonasmo. Mas não dizer isto é uma injustiça. Portanto, ainda que possa parecer redundante, "As Confissões de Schmidt" só funciona porque Nicholson está lá. Não dá para pensar em outro ator que encarnasse Walter Schmidt com tanta competência e maestria, sem torná-lo artificial, caricato e entediante. Não é para menos que Nicholson levou para casa o Globo de Ouro como melhor ator e recebeu uma indicação ao Oscar como tal.

Mas vamos, como se diz, começar do começo. Sinopse do filme: Schmidt acaba de se aposentar em uma firma de seguros, especialista em estatísticas, na pequena cidade de Omaha, Nebraska. Sua única filha, Jeannie (Hope Davis), mora em Denver e está prestes a se casar com Randall (Dermort Mulroney, o galã disputado por Julia Roberts e Cameron Diaz em "O Casamento do Meu Melhor Amigo", aqui absolutamente irreconhecível de tão feio), de quem ele decididamente não gosta. Enquanto tenta se reaproximar da filha que tanto ama e impedi-la de se casar, Schmidt precisa olhar para sua própria vida e lidar com sua velhice e sua solidão.

É muito mais um drama, do que uma comédia, embora nos faça rir em alguns momentos com seu humor lento, mas real. Um humor politicamente incorreto e verdadeiro, humano. Mas, enfim, entrecortado por cenas de forte carga dramática.
Neste filme, a velhice é desnudada e apresentada cruamente, sem eufemismos. Pêlos na orelha, rugas ao redor dos olhos... e a solidão de sentir que sua vida está acabando sem que Schmidt tenha feito algo realmente importante, que o faça imortal de alguma maneira.
Em suas reflexões e descobertas, Schmidt lamenta ao constatar que quando ele morrer, e as pessoas que o tiverem conhecido também tiverem morrido, será como se ele nunca tivesse existido.

Mas o filme é esperançoso e guarda um final emocionante. Pode-se dizer que apelou para o sentimentalismo, mas fazer o que, se funciona? Funciona que é uma beleza, aliás. Não só para comover o espectador, mas também para dar ao filme um desfecho e acabamento coerentes e encantadores ao mesmo tempo. Nada de transformações radicais, apenas pequenas mudanças, pequenos detalhes que, desculpem o jargão, fazem toda a diferença.
Sensível e verdadeiro, o filme é quase um monólogo. Não fosse Nicholson tão talentoso, o filme seria absolutamente cansativo. Mas o mérito também fica por conta do roteiro bem construído, que também arrematou o Globo de Ouro em sua categoria.
Kathy Bathes, como sempre, também marca fortemente sua presença no filme. O elenco, de modo geral, ainda que secundariamente, contribui para que a história funcione. São personagens incomuns, mas nem por isso caricatas. Justamente por serem excêntricas é que são tão verdadeiras.

Mesmo os lugares-comuns que existem no filme, do tipo "dê valor a uma pessoa enquanto você a tem por perto" funcionam. Algumas vezes o espectador prova a estranheza do contraste de momentos de humor com momentos sérios, reflexivos e até tristes. Mas este balanço se fecha no final de modo que as pontas deixadas ao longo do filme são amarradas. Falar sobre a velhice sem preconceitos que a amenizem, sem a preocupação de ser politicamente correto.
Esta é a proposta do filme. Falar do envelhecimento, da solidão e da morte com verdade, este é o grande triunfo dele. E, sem dúvida, contar com a contribuição do talento de Nicholson para tanto é uma escolha perfeita: assim fica difícil não acertar na mosca!

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