sábado, 24 de abril de 2010

Invictus

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O sempre competente Morgan Freeman finalmente ganhou a chance de encarnar o ícone sul-africano neste filme de ação comandada por seu amigo e velho parceiro profissional Clint Eastwood. Inspirado num livro de John Carlin, o roteiro de Anthony Peckham tem início com a libertação de Mandela e sua eleição para Presidente do país que o manteve prisioneiro por quase 30 anos.
Enfrentando a resistência de uma boa parte da elite branca, que lamenta o fim do apartheid, o líder descobre que a seleção nacional de rúgbi, admirada por este segmento da população (e desprezada pela maioria negra), está prestes a ser desmanchada por um recém-empossado comitê de esportes. Enxergando ali a oportunidade de começar a estabelecer uma reconciliação entre os ex-opressores e suas vítimas, ele se aproxima do capitão da equipe, o determinado François Pienaar (Matt Damon), com o objetivo de manifestar seu apoio ao time, que se encontra a alguns meses de disputar a Copa do Mundo.
Freeman empresta seu imenso carisma e sua voz poderosa e evocativa a Mandela, pronunciando as palavras numa cadência cuidadosa que não apenas remete à enunciação do homem que está encarnando, mas que também sugere uma cautela e uma inteligência fundamentais para que aquele homem possa desempenhar suas difíceis funções de guia de um país dividido pelo preconceito e pela miséria.
Conta com alguns momentos de sutileza: é interessante notar, por exemplo, como François fala em africâner com uma criada branca de Mandela sem perceber que isto é uma ofensa ao Presidente (que, por sua vez, finge não reparar) – e Eastwood deve ser elogiado por não tentar chamar a atenção do espectador para o que ocorre, deixando que percebamos sozinhos (ou não) a gafe cometida pelo atleta. Da mesma maneira, quando um dos guarda-costas negros de Mandela se vê diante de um colega branco que desconhece, seu impulso inicial (perguntar se “está preso”) é revelador e tocante, demonstrando seu condicionamento a décadas de opressão e injustiça. Para finalizar, a seqüência envolvendo uma excursão da seleção por uma região empobrecida do país é algo que emociona sem exageros ao mesmo tempo em que ilustra a inteligente estratégia dupla do Presidente, que dá um choque de realidade nos atletas enquanto leva a população a se aproximar do time.
Melhor filme de Clint desde Sobre Meninos e Lobos. Carga dramática absurda, enredo empolgante e um desfecho extremamente comovente. Clint conta e encanta pela maneira como tratou do acontecimento histórico.

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